Não era final de Copa do Brasil, nem mata-mata de Libertadores, muito menos briga por título do Campeonato Brasileiro. Era mais do que isso: a luta pela honra. Por isso, o Pacaembu lotou nesta quinta-feira. E por isso o Palmeiras, campeão nacional há dois meses, deu sinais reais de que pode sair do buraco ao vencer o Sport por 3 a 1, em um Pacaembu lotado. Na briga direta entre duas equipes da zona de rebaixamento, o Verdão levou a melhor, ultrapassou o rival, mas ainda está entre os quatro piores do Brasileirão.
O jogo foi decidido por um coadjuvante, Tiago Real. O Palmeiras abriu o placar com Correa, sofreu o empate com Rivaldo, e viu o meia decidir com um golaço e uma assistência para Obina. O duelo acabou aí. O Verdão subiu para 20 pontos, na 17ª colocação. O Sport permaneceu com 19, caindo para o 18º lugar.
A torcida alviverde atendeu ao chamado e bateu recorde de público na temporada: 29.409 pagantes, mais até do que na decisão da Copa do Brasil contra o Coritiba, que levou pouco mais de 28 mil palmeirenses à Arena Barueri. E quando a torcida abraça o time dessa forma, fica mais fácil reagir. Os pernambucanos, sem criatividade, pouco fizeram para merecer um resultado melhor.
O Palmeiras volta a campo no próximo domingo, às 18h30m (horário de Brasília), contra o Atlético-MG, em Belo Horizonte. No mesmo dia e horário, o Sport recebe o Cruzeiro na Ilha do Retiro.
Valdivia arrisca finalização, marcado de perto por Tobi
Torcida ajuda, trave não
Quando o torcedor do Palmeiras saiu de casa e dedicou algumas horas de seu tempo a uma ida ao Pacaembu, o mínimo que ele esperava do time era vontade, muita vontade. Isso não faltou, definitivamente. Felipão escalou uma equipe mais ofensiva para tentar uma pressão implacável desde o início: Tiago Real e Valdivia juntos, mesmo sem entrosamento, e Correa como lateral-direito foram as inovações do comandante.
O primeiro tempo ficou quase todo concentrado em metade do campo, aquela em que o Palmeiras atacava e o Sport se segurava com quase todo mundo atrás da linha da bola – exceção feita ao perigoso Felipe Azevedo, que só esperava uma oportunidade de contra-ataque pelas costas de Correa. Luan se jogava para salvar uma bola, Obina trombava com os zagueiros, e até Valdivia corria mais do que o normal.
Do lado pernambucano, o nervosismo tomou conta. Acuado, o time não conseguia trocar passes curtos, nem armar contra-ataques. As laterais eram ocupadas por Welton, estreante da noite, e Willian Rocha, que levou cartão amarelo em seu primeiro lance e foi atabalhoado nos outros. O técnico Waldemar Lemos queria mais era cozinhar o jogo para deixar o tempo passar e fazer a torcida palmeirense se enervar. Conseguiu, mas mais por incompetência do time da casa.
O Palmeiras jogou bem sem fazer gols, como já virou costume. Quando Tiago Real e Valdivia se entenderam na disposição em campo, o jogo fluiu. Como elemento surpresa, João Vitor se destacou e causou a jogada mais perigosa do primeiro tempo. Aos 27, o volante deixou Obina na cara do gol. Lance que não se perde. O atacante fez tudo certo e chutou no cantinho esquerdo de Magrão. A bola beijou a trave e correu pela área sem nenhum palmeirense para aproveitar.
A jogada serviu para esquentar o clima em campo. Tiago Real exigiu grande defesa de Magrão, e Felipe Azevedo respondeu com uma cabeçada que fez Bruno se esticar. O ambiente ficou tão tenso que houve confusão generalizada na saída para o intervalo. A bronca era com Luan, normalmente esquentado, que trocou provocações com os jogadores do Sport - o palmeirense acusou o meia Hugo de ter cuspido nele. Nas arquibancadas, a temperatura alta se refletiu em xingamentos aos rivais.
Confusão entre jogadores na saída para o intervalo
Tiago é real
A briga do fim do primeiro tempo pilhou todo mundo, do torcedor ao ponta-esquerda. O Palmeiras voltou mais rápido, tocando bem a bola e exercendo a mesma pressão dos minutos iniciais. A partida truncada virou jogaço, pois os dois times perceberam que o empate não resolvia muita coisa. Mais técnico, o Verdão, enfim, acertou o pé. Aos sete minutos, Correa chutou de longe, e Magrão, melhor jogador do Sport, deixou a bola passar por baixo de seus braços: 1 a 0.
O Pacaembu explodiu, mais até do que a Arena Barueri nos bons tempos de título da Copa do Brasil. Mas um jogo que foi anunciado com tanta dramaticidade, com mobilização da torcida, não poderia ser resolvido sem um susto, um ingrediente que desse ainda mais emoção à partida. E coube a Rivaldo, escorraçado pelo Palmeiras, calar o estádio. Aos 16, o volante canhoto acertou um chute de direita. A bola tocou no travessão antes de entrar e empatar a partida. Na comemoração, o volante provocou a torcida palmeirense.
Enquanto o ex-alviverde ia à forra, um recém-contratado colocou a bola embaixo do braço e foi à luta. Tiago Real, em sua segunda partida com a camisa do Palmeiras, mostrou que é de confiança. Um minuto depois, apareceu sozinho na área e tocou de canhota, na saída de Magrão: 2 a 1. Curiosamente, quem não o marcava direito era Rivaldo, responsável por acompanhá-lo.
Aos 22, Tiago deu um toque sutil para fazer Obina desencantar: 3 a 1. Jogo resolvido em poucos minutos. Jogo para Tiago virar realidade entre os palmeirenses. Foi ele o responsável maior pelo alívio momentâneo da torcida que lotou o Pacaembu. Pelo Sport, Henrique e Gilberto entraram só no fim, sem tempo para mudar o panorama. O palmeirense pode viver um feriado mais tranquilo neste 7 de setembro, com a fuga da zona de rebaixamento se tornando cada vez mais uma realidade. Aos rubro-negros, fica o alerta.
Obina e Correa comemoram gol contra o Sport