Há duas semanas, o meia Valdivia passou por uma biópsia para o Palmeiras tentar desvendar a causa de suas seguidas lesões. O resultado não vai evitar que o Mago tenha novos problemas, mas ao menos deixou o jogador mais consciente em relação a seu corpo. Um novo tipo de treinamento foi sugerido para o jogador, e o plano começou a ser executado pela comissão técnica. Novas lesões musculares podem surgir – agora com menor frequência. Tudo por conta da configuração das fibras presentes nos músculos do jogador.
A política do Palmeiras não permite que métodos de tratamento e treinamento sejam divulgados. Mas o preparador físico Anselmo Sbragia assegura que o trabalho específico já vinha sendo feito antes mesmo de o departamento médico procurar um especialista para realizar a biópsia. E mesmo assim, não há como prever se novas lesões musculares vão aparecer.
– Estaria sendo mentiroso se eu falasse que ele não vai mais se lesionar. Estamos tentando equilibrar todos os problemas que ele teve no passado. Não estamos livres de contusões, mas existe um controle. O mais importante é que ele não está reclamando de cansaço, sempre se mostra disposto a treinar e já sabe melhor como funciona seu corpo – explicou o preparador.
O lado mais positivo é justamente esse: Valdivia está ciente de sua situação, e por isso vem surpreendendo a comissão técnica do Palmeiras pela forma como tem se esforçado nos treinamentos específicos. O segredo é dar resistência ao Mago, que, em entrevista recente ao jornal O Estado de S. Paulo, admitiu ter dificuldades para jogar duas vezes por semana no ritmo desejado pelo técnico Luiz Felipe Scolari.
– O que foi passado pra mim é que tenho mais fibras rápidas. Se eu fosse velocista, provavelmente eu nunca iria me machucar. Quando tem jogo domingo e quarta-feira eu não consigo me recuperar tão rápido quanto os outros, e é por isso que eu me machuco mais. Só preciso de mais tempo para me recuperar. Depois não terei mais problemas – resumiu o Mago.
O procedimento
A biópsia foi realizada por um especialista no assunto, Beny Schmidt, chefe do laboratório de patologia muscular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com iniciativa do fisiologista do Palmeiras, Paulo Zogaib. O resultado revelou que Valdivia possui predominância de fibras do tipo 2B, anaeróbicas e “lentas”, mais apropriadas para esportes que exigem explosão – atletismo, por exemplo.
– Isso não impede, claro, que alguém com predominância desse tipo de fibra possa ser jogador de futebol. Na maioria dos casos não interfere na performance do atleta, mas quando há uma incidência maior de lesões, a biópsia é necessária para que se possa estudar uma alternativa – afirmou Beny Schmidt.
A biópsia não é um exame obrigatório quando o clube contrata um jogador, já que é um processo que causa incômodo ao atleta – um pedaço do músculo é retirado para análise. Na opinião do especialista, deveria ser obrigatório. Isso porque há três tipos de fibras nos músculos: tipo 1, e tipos 2A e 2B. As do tipo 1 são as mais comuns em jogadores de futebol, são aeróbicas e suportam atividades mais longas – os 90 minutos de uma partida. As do tipo 2A são anaeróbicas, assim como as 2B. A diferença é que as 2A têm características mais “flexíveis”, e podem adquirir o papel de fibras do tipo 1.
– Um treinamento diferenciado pode mudar a configuração dessas fibras. O tipo 2A é ‘treinável’ e pode fazer o papel de fibras lentas, melhorando a performance do jogador e prevenindo lesões musculares – explicou.Não é possível transformar fibras do tipo 2B diretamente em tipo 1. Mas ela pode ser convertida em 2A, com um treinamento de força específico. A partir daí, sim, é possível mudar a configuração dos músculos e melhorar o desempenho. É o que Beny Schmidt sugeriu ao departamento de preparação física do Palmeiras.
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