Com adjetivos e até exclamações, a CBF formulou um conjunto de normas complementares ao livro de regras e determinou que os árbitros as cumpram. A circular, datada de fevereiro e assinada pelo presidente da Comissão de Arbitragem do órgão, Sérgio Corrêa, pede que os juízes não sejam covardes ao expulsar um jogador de cada time em situações de confusão, solicita maior cuidado na punição a supostas simulações e dá liberdade até para cartão vermelho em comemorações de gol ofensivas ao adversário.
Em sua introdução, o texto argumenta que a ideia é que o coletivo prevaleça sobre o individual na arbitragem brasileira. O documento tem 15 pontos, com orientações das mais diversas: do braço a usar nas sinalizações até os termos usados na súmula; da proibição do uso de joias ao cuidado com o momento de encerrar a partida.
Em um dos pontos, o texto adverte que comemorações de gol precisam ser analisadas com cuidado. Se houver ofensa ao adversário, o árbitro precisará agir (o vídeo abaixo tem um exemplo: mostra atletas do Londrina apontando um estilingue à torcida do Arapongas).
- Os árbitros devem observar se a comemoração tem objetivo de zombar do adversário ou, especialmente, da torcida contrária. Em caso positivo, o infrator deve ser punido, no mínimo, com cartão amarelo – diz o texto.
Leonardo Gaciba, ex-árbitro, comentarista da TV Globo, observa que a recomendação serve para evitar violência fora das quatro linhas. Ele recorda um caso envolvendo Tevez em um superclássico entre Boca Juniors e River Plate, em 2004, pela Libertadores da América. O atacante foi expulso por comemorar um gol imitando uma galinha, apelido pejorativo dado pela torcida do Boca ao River.
- É um cuidado que a Fifa tem, para a provocação não passar para fora de campo. Em um superclássico argentino, com uma torcida só, o Tevez fez um gol e imitou uma galinha. O árbitro aplicou o vermelho direto para ele – comentou Gaciba.
Em alguns momentos, o documento eleva o tom nas recomendações aos árbitros. Em um dos itens, o hábito de expulsar um atleta de cada equipe em uma briga generalizada é chamado de covardia.
- Nas situações de confronto em que um jogador empurra o outro e é golpeado com força excessiva, somente o que golpeou merece ser expulso. A filosofia de solução do problema com expulsão de ambos é covarde e diminui a autoridade do árbitro – diz o texto.
Gaciba concorda com a determinação. O comentarista de arbitragem acredita que o recado pode coibir a acomodação.
- De repente, é para acabar com o sistema antigo de se escolher dois, um de cada lado, e expulsar os jogadores. Hoje em, dia, é possível perceber que às vezes somente um jogador provoca a confusão. O árbitro não pode se esconder atrás deste sistema.
O texto também dá liberdade ao árbitro para analisar, antes de aplicar um cartão, a consequência da infração cometida. No caso de um jogador machucado, o juiz deve observar se ele sofreu uma lesão grave. Se sim, a punição ao agressor será maior.
- Eu nunca tinha visto esta orientação. Acho um pouco arriscada. Às vezes, um jogador quebra a perna do adversário sem ter essa intenção – opinou Gaciba.
Outra questão destacada pela circular é o exagero nos cartões aplicados em lances de suposta simulação de atletas. O texto prega que só deve ocorrer punição quando houver "acinte e clareza na simulação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário